A Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência (SBPC) promoveu ontem dia 07 de Maio de 2020 uma “marcha virtual” pela ciência. O
objetivo da iniciativa é chamar a atenção de autoridades e da sociedade
para a importância da pesquisa no país e do fortalecimento de políticas
públicas de apoio à construção de conhecimento científico, como o
aumento de investimentos e ampliação da estrutura para essa prática.
Ministro Marcos Pontes Em razão da marcha, o ministro da Ciência,
Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, divulgou nos canais
de redes sociais da pasta um vídeo anunciando que o governo está
investindo de R$ 100 milhões em ações relacionadas à pesquisa para
combate à covid-19. Pontes acrescentou que foram liberados ontem R$
352 milhões para laboratórios de biossegurança nível quatro, que podem
contribuir com pesquisas para enfrentar novas pandemias. Além disso,
estão sendo aportados mais R$ 600 milhões pela Financiadora de Estudos e
Projetos (Finep) para essa finalidade.
Fortalecimento da ciência: A “marcha” consistiu em diversos debates
virtuais sobre temas variados, da pandemia aos desafios da ciência,
tecnologia & inovação (CT&I), passando por discussões sobre
temas contemporâneos.
Em um desses debates, representantes das
principais entidades do setor apontaram a necessidade de fortalecer as
políticas voltadas à CT&I. O presidente da Academia Brasileira de
Ciências (ABC), Luiz Davidovich, ressaltou que a pandemia está trazendo
uma reavaliação do papel do Estado e das instituições de CT&I.
“Estas instituições têm demonstrado força
fantástica. Universidades adaptando laboratórios para enfrentar crise.
Isso mostra que apesar dos cortes sucessivos a ciência está viva
enfrentando as emergências que aparecem”, comentou.
O pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz
Carlos Gadelha apontou como a pandemia evidencia as limitações da
CT&I no país, mencionando como exemplo o fato de o país gastar em
importações, royalties e transferência de tecnologia US$ 20
bilhões na área de saúde, quase o equivalente ao orçamento do ministério
(que segundo a Lei Orçamentária Anual de 2020 é de R$ 125,6 bilhões).
“Nosso gasto em saúde não está gerando
riqueza no país. Na área de ventiladores, nossas importações
quintuplicaram nos últimos 20 anos. Temos que ficar de joelhos para
comprar componentes. Na área de fármacos, 94% dos que a gente precisa
são importados. A gente não pode apenas vender produtos primários e não
gerarmos conhecimento nesse país”, destacou.
Desafios: Esse cenário na saúde ilustra os desafios da
produção de conhecimento no Brasil assinalados pelos participantes do
debate. O Brasil é atualmente o 11º país no ranking global em
produção científica. O país possui 200 mil pesquisadores, número que na
proporção por 1 milhão de habitantes fica abaixo de diversas nações,
como Argentina, Estados Unidos, os países da União Europeia, Coreia do
Sul e Israel.
O presidente da SBPC, Ildeu Moreira,
destacou que o orçamento das principais instituições e fundos da área
diminuiu a menos da metade nos últimos sete anos. O do Ministério de
Ciência, Tecnologia Inovações e Comunicações (MCTIC) chegou a R$ 8
bilhões em 2013 e agora está em R$ 3,5 bilhões. A Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), responsável por
bolsas de pós-graduação, teve o orçamento reduzido de R$ 7,4 bilhões
para R$ 3,2 bilhões no mesmo período.
O Fundo Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (FNDCT) está com mais de 90% do recurso
contingenciado. O fundo foi ameaçado pela proposta de emenda à
Constituição que extinguia diversas fontes de receita deste tipo. Mas
durante a tramitação no Congresso, que ainda não foi concluída, o FNDCT
foi retirado da proposta após pressão das entidades de pesquisa.
“O grande desafio é que CT&I esteja
integrada em um projeto de nação. Que seja democrático, soberano, menos
desigual e com desenvolvimento sustentável. Podemos fazer mais se
tivermos apoio e encaixados em um projeto de nação. Podemos melhorar?
Sim, mas precisamos estar inseridas neste projeto”, defendeu o
presidente da entidade.
Para o presidente do conselho das fundações
de amparo à pesquisa estaduais, Fábio Gomes, o país está perdendo a
oportunidade de contribuir com o esforço mundial de colocar a ciência
para combater a pandemia do novo coronavírus. “Apesar de a comunidade
acadêmica estar à disposição lutando, no âmbito local, do ponto de vista
federal não há movimento neste sentido. Há ao contrário, de negar a
realidade e ela ser construída sob falsas premissas”, opinou.
A presidente da Associação Nacional de
Pós-Graduandos, Flávia Galé, acrescentou à lista das medidas em anos
recentes sucessivos cortes de bolsas. Ela lembrou que o valor das bolsas
de pós-graduação não é reajustado há sete anos. “Esta não é benesse,
mas remuneração fundamental. Não se faz ciência só com laboratório, mas
com pesquisadores”, comentou.
A Agencia entrou em
contato com o MCTIC perguntando sobre a redução orçamentária questionada
pelas entidades científicas e aguarda resposta.
Inovação:A diretora de Inovação da Confederação
Nacional da Indústria (CNI), Gianna Sagazio, defendeu maior aplicação
dos conhecimentos em soluções industriais. Ela lembrou que o Brasil
ficou na 66ª posição no Índice Global de Inovação em 2019 e não está
investindo no setor como outras nações.
“O que está ocorrendo nos EUA, Europa, China
é que existe um reconhecimento pelo governo e sociedade que investir em
CT&I é prioridade e é vetor para o desenvolvimento. A este
reconhecimento corresponde à disponibilização de instrumentos, a
formulação de políticas e recursos financeiros sustentados ao longo dos
anos. A OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico]
tem investido em P&D acima de 2% do PIB. No Brasil, até o último
dado disponível temos menos de 1,3% do PIB”, exemplificou Gianna
Sagazio.
Informações: Ministério da Ciência,
Tecnologia, Inovações e Comunicações - Via: Ebc - Post: G. Gomes - Home: www.deljipa.blogspot.com.br