Durante
todo este mês a campanha Dezembro Verde vai alertar a população sobre
as graves consequências do abandono de animais e fomentar a guarda
responsável dos bichinhos, geralmente cães e gatos que vagam nas ruas,
após serem abandonados por seus tutores.
Embora não haja estatísticas
oficiais, uma estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta
que mais de 30 milhões de cães e gatos estejam em situação de abandono
no Brasil. A campanha é promovida pelo Conselho Regional de Medicina
Veterinária de São Paulo (CRMV-SP).

Abandonar ou maltratar animais é crime previsto pela Lei Federal nº 9.605/98. Vale lembrar que uma nova legislação, a Lei Federal nº 14.064/20,
sancionada em setembro, aumentou a pena de detenção que era de até um
ano para até cinco anos para quem cometer este crime. Além disso, o rito
processual passa à vara criminal, não mais ao juizado especial.
“A maioria dos animais abandonados não é
resgatada e sofre com fome, doenças, exposição ao tempo, riscos de
atropelamento e traumas que interferem em seu bem-estar mental e
comportamento”, alerta a médica-veterinária Cristiane Pizzutto,
presidente da Comissão Técnica de Bem-estar Animal (CTBEA) do CRMV-SP.
Outra questão grave são os prejuízos à saúde
pública. “O abandono impacta diretamente na vida das pessoas, pois
animais nas ruas causam acidentes de trânsito, prejudicam o turismo e
afetam a saúde pública – devido às doenças que afetam tanto humanos
quanto animais”, diz a médica-veterinária Rosangela Gebara, que integra a
CTBEA/CRMV-SP.
Abandonos aumentam em dezembro
A escolha deste mês para a campanha está
relacionada ao fato de que, neste período do ano, os casos de abandono
aumentam de forma expressiva. “Acontece de famílias deixarem seus
animais nas ruas, isentando-se da responsabilidade quando vão se
ausentar para as viagens de férias e festas de fim de ano”, sinaliza
Cristiane.
Segundo Rosangela, “trabalhos internacionais
mostram que as principais causas de abandono são, em primeiro lugar,
problemas no comportamento dos animais e, em segundo lugar, alterações
na rotina de casa – aí entra a questão das viagens e mudanças de
endereço.”
Mas, a pandemia também ajudou a aumentar
esse número, destaca Rosangela. “Infelizmente soubemos que houve um
aumento do número de abandono no início da pandemia, as pessoas ficaram
com medo de que os animais pudessem transmitir o coronavírus. Na verdade
eles não transmitem, algumas espécies são tão vítimas quanto a gente,
podem pegar o coronavírus da gente, mas não transmitem. Mas, por causa
de algumas notícias sensacionalistas, as pessoas abandonaram os cães e
gatos”
A médica veterinária destaca que atualmente o
abandono tem acontecido por questões financeiras, as pessoas estão
ficando sem recursos para cuidar dos animais domésticos. “Agora temos
visto um maior número de abandono por conta da crise socioeconômica, as
pessoas estão mudando de casa, de estado, perdendo seus empregos, e
infelizmente isso acaba afetando e muitas pessoas abandonaram os animais
por conta desta questão”, lamenta.
Doenças em animais abandonados
Animais nas ruas, sem os devidos cuidados de
saúde e higiene, também podem desenvolver as zoonoses, ou seja, doenças
infecciosas transmitidas de animais para seres humanos e vice-versa.
“Uma grande quantidade de animais nas rua
pode aumentar a incidência de algumas doenças que são transmitidas por
vetores, por mosquitos, como a leishmaniose, doenças fúngicas, como é o
caso das esporotricose nos gatos e a raiva, apesar que o Brasil tem um
ótimo controle da raiva através da vacinação anual. Mas, em países onde
não tem essa vacinação e grande animais nas ruas, acabam transmitindo a
doença entre eles e às pessoas”, detalha Rosângela.
A veterinária alerta sobre a importância de
manter os animais seguros. “É preciso manter a guarda responsável,
castrar os animais, mantê-los dentro de casa e nunca abandonar. Se o
animal tiver qualquer problema de comportamento ou saúde procure ajuda,
mas nunca abandone, porque o abandono causa um extremo sofrimento ao
animal. Os animais, principalmente os cães, têm uma cognição de uma
criança de três anos. Então imagina pegar uma criança de três anos e
abandonar no meio de uma estrada, numa praça, imagina como é o
sofrimento psicológico e físico desse animal diante do abandono!”,
compara Rosângela.
Escolha consciente
Em seu papel social, os médicos-veterinários
são agentes conscientizadores contra o abandono. Os profissionais devem
dar orientação desde o momento da escolha do pet até os cuidados para a
saúde e o bem-estar ao longo da vida do animal. “As famílias precisam
buscar essas orientações antes e depois da adoção/aquisição do pet”,
diz.
Cristiane compartilha desta opinião e
enfatiza que “o médico-veterinário pode explicar sobre a lida com os
pets no que diz respeito a comportamento e saúde, para ampliar o olhar
dos tutores sobre a responsabilidade que é ter um animal de estimação.”
As especialistas recomendam uma reflexão
antes de adotar ou comprar um animal doméstico. É importante fazer os
seguintes questionamentos:
- Todos na família estão de acordo com a presença do animal?
- O animal terá onde ou com quem ficar quando o tutor for viajar?
- O animal terá um espaço adequado para dormir e brincar?
- O tutor terá tempo para fazer passeios e dar a atenção diária que o animal requer?
- Haverá condições de levar o animal regularmente ao médico-veterinário?
Denúncia
Quem presencia maus tratos com animais e
deseja denunciar, deve seguir as seguintes recomendações: reunir todas
as provas existentes (como fotos, vídeos, imagens de circuitos de
condomínios, áudios) e com o material em mãos, ir até uma delegacia de
polícia e registrar o boletim de ocorrência.
Segundo Rosangela, a fiscalização de maus
tratos pode ser feita por qualquer cidadão. “Se uma pessoa vir alguém
abandonando um animal no meio de uma estrada, essa pessoa pode filmar,
fotografar, anotar a placa do carro e acionar de preferência a polícia
ambiental. Quem abandonou vai ser indiciado e se for pego em flagrante,
cometendo o crime de maus tratos, vai ser investigado e se houver uma
denúncia vai ser instaurado um inquérito”.
A veterinária alerta também que, se
possível, deve-se tentar resgatar o animal. “É muito importante também
tentar salvar esse animal, se ele for abandonado no meio da estrada,
tentar resgatar, quando é uma estrada que tem uma concessionária, avisar
onde foi avistado esse animal, pois eles são extremamente vulneráveis,
muitos são atropelados e acabam acontecendo muitos acidentes graves, até
fatais, com pessoas que tentam desviar desses animais nas estradas”,
finaliza.
Informações: OMS
Via: A. Brasil
Post: G. Gomes
Home: www.deljipa.blogspot.com