Quésia
Vitória, de 10 anos, foi a primeira paciente do Instituto Nacional de
Traumatologia e Ortopedia (Into), no Rio de Janeiro, a ser submetida a
uma cirurgia com técnica inovadora para corrigir deformidade nas pernas,
provocada pela
doença de Blount. Ela operou a primeira perna em julho
do ano passado e a segunda em dezembro e se prepara para retirar o
aparelho do lado direito na próxima quarta-feira dia 24 de Março de 2021. O Into é
vinculado ao Ministério da Saúde

Pioneiro no Brasil, o procedimento garante
um tratamento mais confortável às crianças e adolescentes, que estão
entre os casos mais frequentes, e com maior controle das correções
ortopédicas. A doença de Blount é um distúrbio de crescimento que se
caracteriza pela alteração no desenvolvimento da tíbia (o osso da
canela), levando à deformação progressiva das pernas.
De acordo com o instituto, Quésia
desenvolveu a doença a partir dos três anos de idade, quando o
encurvamento das duas pernas começou a se tornar mais grave. O pai da
menina, Valdemir Carmo do Nascimento, relatou que a filha sentia muitas
dores e tinha muita dificuldade para andar. “Nós procuramos um
tratamento e, finalmente, encontramos esse no Into. Quando recebi a
notícia de que a Quésia seria operada, eu chorei de felicidade”, contou
Nascimento. Ele atestou a rapidez com que os resultados da cirurgia
foram observados: “Em pouco tempo, as pernas da minha filha começaram a
voltar para o lugar. Fiquei muito feliz porque o resultado foi muito
rápido e satisfatório”.
Inovação
O chefe do Centro de Alongamento e
Reconstrução Óssea do instituto e idealizador da técnica, Flávio dos
Santos Cerqueira, afirmou que esse procedimento é um agente de
transformação. Ele já foi aplicado até agora em quatro pacientes e já
tem agendado mais um para a próxima semana.
O médico explicou à Agência
que anteriormente, para corrigir essa deformidade, era usado um
aparelho fixador circular, mais incômodo, mais volumoso, que dificultava
a higienização do paciente. “O conforto para a criança fica pior. Aí, a
gente conseguiu adaptar o aparelho monolateral, mais leve, mais
confortável”.
Batizada de dupla osteotomia de abertura
gradual e controlada, a técnica cirúrgica insere um fixador externo na
perna do paciente para a realização de duas aberturas ósseas. Por
realizar essas aberturas de maneira gradual, o novo procedimento é menos
doloroso e reduz as chances de necrose da pele e de lesões dos tecidos
encurtados, informou o Into, por meio de sua assessoria de imprensa.
Além disso, a estrutura do aparelho utilizado na técnica é mais leve e
menor, o que facilita os movimentos do paciente.
A deformidade provocada pela doença de
Blount pode ser bilateral, ou seja, nas duas pernas, como foi o caso de
Quésia, ou unilateral, em apenas uma das pernas. Flávio Cerqueira disse
que a criança pode “fazer carga e fazer marcha”, ou seja, andar durante
todo o tratamento. Mesmo com o aparelho na perna, essas crianças já
andam. O aparelho permite a carga.
Piora
O médico esclareceu que se essa deformidade
não for operada, ela vai piorando e ocorrendo maior desgaste dessa
articulação com o passar do tempo. A pessoa consegue andar, “mas é uma
marcha completamente desajeitada”, mencionou. Segundo o especialista, a
deformidade física se torna uma deformidade social, porque as crianças
acabam não querendo mais ir à escola, brincar com os amigos, levar uma
vida normal. A nova técnica “devolve a autoestima e a confiança da
criança, melhorando sua qualidade de vida”, afirmou Cerqueira.

Ele explicou que a doença de Blount acontece
na infância. Tem três estágios: Blount infantil, juvenil e da
adolescência. Essa ocorre entre 9 e 11 anos de idade, mas pode ser
operada até os 14 anos. “Como toda doença, tem alguns casos que são mais
severos e outros menos severos. Mas, quanto antes você faz o
diagnóstico e o tratamento, suas chances de sucesso e o prognóstico são
melhores”.
Flávio Cerqueira disse que em torno de um
mês a um mês e meio de operada, a deformidade é corrigida. Incluindo os
meses que o aparelho permanece na perna do paciente até ser retirado,
todo o processo é concluído em mais ou menos quatro meses.
Após a realização da cirurgia no hospital, o
tratamento tem continuidade em casa, com a abertura manual realizada
pelo responsável pela criança ou o adolescente e orientada pela equipe
médica. Cerqueira disse que a nova técnica será publicada em abril
próximo em revista científica americana de descrição de técnicas
cirúrgicas. Depois da publicação, a técnica passa a ser reconhecida
mundialmente.
Informações: Into
Via: ebc
Post: G. Gomes
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