São cerca de oito horas de viagem para
chegar à comunidade indígena Guató, localizada no Pantanal
sul-mato-grossense. Mas não são oito horas de carro não, são oito horas
de barco. E de barco rápido, conta o cacique Osvaldo Correia da Costa:
“Para comprar mantimentos, precisamos de um barco maior. Aí são três
dias navegando pelo rio.”

O acesso complicado dificulta a chegada de
serviços e a comunicação com outras comunidades. A secretaria especial
de Saúde Indígena (Sesai) é a responsável pelo atendimento dos indígenas
e diz que o contato com o mundo externo antes era feito apenas por meio
de um telefone, que ficava na base do Exército na aldeia. Com a chegada
da internet, no entanto, a comunicação ficou mais fácil. A Sesai conta
hoje com o auxílio do programa Wi-Fi Brasil e consegue entrar em contato
com a aldeia até por aplicativo de mensagens.
A chegada da internet pelo Wi-Fi Brasil
também impactou a vida na aldeia Porto Lindo, localizada no município de
Japorã, em Mato Grosso do Sul. Segundo o líder guarani-kaiowá, cacique
Roberto Carlos Martins, os 5,5 mil indígenas passaram a ter melhores
oportunidades de trabalho, estudo e pesquisa, além dos aspectos de
comunicação. “Rapidamente a gente consegue se comunicar não só com a
comunidade mas a comunidade também com o poder público, poder privado.
Então a gente tem essa facilidade hoje”.
O cacique, no entanto, alerta que a internet
também traz aspectos negativos à aldeia, assim como ocorre em grandes
centros urbanos: o tempo excessivo que o indivíduo fica conectado. “Em
vez de estar conversando e brincando estão ligados na internet”,
comenta.
Pelo Brasil afora
Hoje o programa conta com mais de 13,3 mil
pontos de internet em funcionamento, instalados em escolas, unidades de
saúde, de segurança e de prestação de serviços públicos em áreas
remotas, de fronteira ou de interesse estratégico, além de aldeias
indígenas e comunidades quilombolas - todos lugares de difícil acesso.
“Aonde ninguém chega, a gente chega com
sinal de internet de qualidade”, diz o secretário de Telecomunicações do
Ministério das Comunicações, José Afonso Cosmo Júnior. O número de
pessoas atendidas ultrapassa os 8,5 milhões, segundo o governo.
Pessoas como a dona de casa Maria Aparecida
Pereira, moradora do povoado Conceição do Jacinto, que fica no interior
de Minas Gerais. “Com a internet eu consigo escutar o choro e a voz do
meu neto, acompanhar o engatinhar, os primeiros passos. Vou assistindo
ao crescimento dele por videochamada. Se não fosse a internet, não
conseguiria.”
E não é só para conversar com a família que a
internet serve. Cosmo Júnior conta o exemplo de uma comunidade que,
assim que obteve o sinal de internet, foi logo questionar o prefeito
sobre uma bomba d’água que teria sido retirada sem qualquer explicação.
“No fim das contas, a exclusão digital é também social”, diz.
Tecnologia via satélite
O secretário de Telecomunicações lembra que o
programa só foi possível depois do lançamento do Satélite
Geoestacionário de Defesa e Comunicações (SGDC): “Não tínhamos, antes,
um satélite que cobrisse todo o Brasil com essa capacidade de dados que o
SGDC tem.”
Lançado em 2017, o SGDC está em órbita a 36
mil quilômetros da Terra e possibilitou o estabelecimento de uma
política pública de atendimento às regiões mais remotas já que cobre,
com o mesmo sinal, o país inteiro.
O programa tem duas modalidades. Na
primeira, a internet é instalada em pontos fixos como escolas e unidades
de saúde. Na segunda, ela é levada a praças públicas onde podem ser
usadas por qualquer pessoa. Atualmente são 21 praças que contam com o
sinal do Wi-Fi Brasil, mas outros 2 mil pontos já estão com contratação
em andamento, segundo o Ministério das Comunicações.
Previsão
A expectativa, segundo o secretário de
Telecomunicações, é que 500 novos pontos sejam instalados até a primeira
quinzena de maio, e mais 4 mil até o fim de 2021. De acordo com Cosmo
Júnior, boa parte dos recursos para o programa está vindo de emendas
parlamentares.
De 2020 para 2021 o valor das emendas
destinadas ao Wi-Fi Brasil passou de cerca de R$ 17 milhões para mais de
R$ 100 milhões. “O que mostra que os parlamentares reconhecem o
programa como a forma mais rápida de levar internet a essas
comunidades”. E completa: “A ideia é acabar com o deserto digital do
país. A integração de todas as políticas públicas do ministério tem um
objetivo só: conectar todas as pessoas.”
Informações: Mcom
Post: G. Gomes
Home: www.deljipa.blogspot.com