O
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) derrubou nesta sexta-feira
(4/08/2023) o sigilo da denúncia em que o ex-bombeiro Maxwell Simões Correia é
acusado de liderar uma organização criminosa que explorava serviços
clandestinos de TV por assinatura e de internet, popularmente chamados
de "gatonet". Preso na semana passada,
ele atuaria em parceria com o ex-policial militar Ronnie Lessa,
apontado como executor da morte da vereadora carioca Marielle Franco e
do motorista Anderson Gomes.

Em 14 de março de 2018, o carro onde estavam
Marielle e Anderson foi alvo de tiros disparados a partir de outro
veículo, um Cobalt prata. Suel, como é conhecido o ex-bombeiro, também é
investigado por envolvimento no assassinato.
A denúncia foi apresentada pelo Ministério
Público do Rio de Janeiro (MPRJ) após o depoimento do ex-policial
militar Élcio Queiroz. Preso junto com Ronnie Lessa desde 2019, ele é
acusado de ser o motorista do Cobalt prata durante a execução de
Marielle e Anderson. No mês passado, ele reconheceu a participação no
crime e fechou um acordo de delação premiada. Em meio ao seu relato sobre o ocorrido,
Élcio Queiroz detalhou o envolvimento de Suel e também os negócios
clandestinos no bairro de Rocha Miranda, na zona norte do Rio.
"No caso do Ronnie era mais pra dentro da
comunidade do Jorge Turco. Todo o asfalto, todas as ruas ali e algumas
favelinhas são do Maxwell. A maior parte é do Maxwell, só uma parte que
era do Ronnie", disse.
Conforme a denúncia do MPRJ, os serviços de
"gatonet" seriam comandados por Suel e Ronnie Lessa e haveria ainda
outros quatro envolvidos. Entre eles, está Maxwell Simões Correia
Júnior, filho do ex-bombeiro. Também são denunciados Sandro dos Santos e
Welington de Oliveira Rodrigues, conhecido como Manguaça. O último
envolvido seria Jorge Vicente da Silva Neto, já falecido.
A mulher de Suel, Aline Siqueira, não foi
apontada como participante do negócio, mas foi denunciada por lavagem de
dinheiro. Foi colocado em seu nome um veículo Land Rover que teria sido
comprado com recursos provenientes da exploração do "gatonet", no valor
de R$ 213 mil.
O TJRJ aceitou a denúncia e atendeu o pedido
do MPRJ para decretação da Prisão Preventiva dos participantes do
esquema. Suel foi preso na semana passada, e Manguaça, em operação
realizada junto com a Polícia Federal na manhã desta sexta-feira.
Maxwell Simões Correia Júnior e Sandro dos Santos não foram encontrados e
são considerados foragidos. Ronnie Lessa já se encontrava detido.
O sigilo da denúncia foi derrubado a pedido
do próprio MPRJ, após a operação realizada na manhã desta sexta-feira.
Além da prisão de Manguaça, foram cumpridos mandados de busca e
apreensão em endereços ligados a Suel. Um dos alvos foi um galpão no
Bairro Lins de Vasconcelos, na zona norte da capital fluminense, onde
funcionariam atividades relacionadas com o serviço clandestino de
"gatonet".
O Land Rover que se encontra em nome de
Aline foi apreendido na operação.
Movimentações da mulher de Suel também
têm sido analisadas nas investigações envolvendo o assassinato de
Marielle e Anderson. Gravações em posse do MPRJ mostram que ela se
dirigiu à casa de Ronnie Lessa seis dias após o crime e falou com o
filho do ex-policial militar através do interfone do condomínio.
"Eu queria conversar com a sua mãe. Queria
pedir uma ajuda para ela. É um momento de desespero meu, por isso estou
te pedindo se eu poderia falar com ela. Não fala pro seu pai que eu
estou aqui não. Só fala pra sua mãe. Você pode anotar o número do meu
telefone?", pede ela.
Marielle
De acordo com a delação de Élcio Queiroz,
Suel chegou a realizar campanas para conhecer a rotina de Marielle.
Inicialmente seria ele o motorista. O ex-bombeiro teria inclusive
conduzido o veículo em uma tentativa fracassada de consumar o crime.
"Essa mulher estaria em um táxi e tinha uma
oportunidade. Só que na hora que o Ronnie mandou emparelhar, o carro deu
um problema. O Ronnie desabafou comigo, dizendo que não acreditava que
teve problema, que foi medo, refugou. O Maxwell refugou no momento. A
função dele era dirigir, do Ronnie seria o atirador", disse.
De acordo com Élcio Queiroz, havia ainda uma
terceira pessoa nessa tentativa fracassada: o sargento da Polícia
Militar Edimilson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé. Ele foi
executado em 2021. O delator, que afirma desconhecer o mandante do
assassinato de Marielle, diz que Macalé era o intermediador do crime.
Na delação, Élcio Queiroz também detalha o
envolvimento de Suel nos dias posteriores ao crime. Em sua versão, ele
ficou incumbido de levar o Cobalt prata para um desmanche.
Em 2021, Suel já havia sido condenado a
quatro anos de prisão por atrapalhar as investigações sobre os
assassinatos de Marielle e Anderson. Ele foi acusado de ajudar Ronnie
Lessa a esconder suas armas. No entanto, vinha cumprindo a pena em
regime aberto. Após ser preso na semana passada, o TJRJ determinou sua
transferência para um presídio federal de segurança máxima fora do estado do Rio.
Ronnie Lessa e Élcio Queiroz estão presos em
regime fechado. Eles serão levados a júri popular. Os benefícios do
acordo de delação premiada de Élcio Queiroz são mantidos em sigilo. O
MPRJ chegou a divulgar uma nota afirmando que não está prevista nenhuma
redução de pena. As informações prestadas pelo ex-policial militar estão
sendo utilizadas em novas investigações voltadas para revelar o
mandante do crime.Post: G. Gomes
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Informações: ebc