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31 agosto, 2016

O tenebroso vilarejo dos Bonecos de Mortos

Há 11 anos, Ayano Tsukimi regressava ao seu pequeno vilarejo chamado Nagoro, encravado nas montanhas da região de Tokushima, no Japão. A vida ali, porém, já não era a mesma de quando havia partido: com cada vez menos habitantes, Nagoro caminha para se tornar uma cidade fantasma, com sua população predominantemente idosa morrendo aos poucos.

Com 37 habitantes, o vilarejo é hoje um ponto turístico. Ayano colocou Nagoro no mapa fazendo-a conhecida como “o vale dos bonecos”: para cada habitante que “parte”, ela confecciona um boneco em tamanho natural para substituir a pessoa falecida. São ao todo 350 bonecos espalhados pelos arredores da idílica Nagoro, fundindo-se à paisagem e compondo um museu a céu aberto. Há bonecos arando o campo, esperando o ônibus, pescando à beira do riacho, no alto das árvores ou simplesmente sentados à beira da estrada como se estivessem apenas assistindo à vida passar. Há também bonecos de alunos e professores dentro da escola, fechada há alguns anos devido à baixa demanda.

Os bonecos são caracterizados com roupas de verdade — ternos, uniformes escolares, vestidos, chapéus — e cada qual com uma expressão própria. Ayano conta que se especializou em fazer “vovós” japonesas, bastando uma costura aqui e ali para fazê-las sorrirem. A ideia de fazer bonecos surgiu anos atrás, quando Ayano viu que seria necessário fazer um espantalho para afugentar os pássaros das hortas, e confeccionou o primeiro boneco inspirado na figura de seu pai.

No filme Valley of Dolls (“vale dos bonecos”), de 2014, o documentarista Fritz Schumann captura com sensibilidade a beleza de Nagoro, com suas paisagens tranquilas e ao mesmo tempo fantasmagóricas devido à presença dos bonecos de Ayano. Há quem não goste de suas criações, desabafa a japonesa, mas o fato é que turistas têm aparecido para fotografar os bonecos, movimentando um pouco o vilarejo que parece ter parado no tempo.

Não é segredo que o Japão enfrenta uma queda acentuada em sua população. Uma pesquisa recente mostra que, pela primeira vez desde 1920, a população do país encolheu: são quase um milhão de pessoas a menos. Nesse sentido, os bonecos de Nagoro são como memoriais em homenagem aos que se foram, verdadeiros símbolos de ausências, e mostram que enquanto a vida pode ser passageira, a lembrança dessas pessoas é para sempre. A própria Ayano fez um boneco de si mesma, do qual ela diz ter cara de quem está “tirando uma soneca”. E diz: “Eu não tenho medo da morte”.

Fonte: Yahoo Noticias
Foto: Google Street View/Reprodução
Post: G. Gomes
Canal: www.deljipa.blogspot.com.br

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