A
versão virtual do real deu, nesta segunda-feira dia 7 de Agosto de 2023, mais um passo rumo
à implementação. O Banco Central (BC) anunciou que a moeda digital
brasileira se chamará Drex.
Com a plataforma em fase de testes
desde março e as primeiras operações simuladas previstas para setembro,
o real digital pretende ampliar as possibilidades de negócios e
estimular a inclusão financeira. Tudo num ambiente seguro e com mínimas
chances de fraudes.
A ideia, segundo o BC, é que o Drex seja
usado no atacado para serviços financeiros, funcionando como um Pix –
sistema de transferências instantâneas em funcionamento desde 2020 –
para grandes quantias e com diferentes finalidades. O consumidor terá de
converter reais em Drex para enviar dinheiro e fazer o contrário para
receber dinheiro.
Confira como vai funcionar a nova moeda digital oficial do país:
O que é o Drex?
Também chamado de real digital, o Drex funcionará como uma versão eletrônica do papel-moeda, que utiliza a tecnologia blockchain,
a mesma das criptomoedas. Classificada na categoria Central Bank
Digital Currency (CBDC, Moeda Digital de Banco Central, na sigla em
inglês), a ferramenta terá o valor garantido pela autoridade monetária.
Cada R$ 1 equivalerá a 1 Drex.
Considerado à prova de hackers, o blockchain
é definido como uma espécie de banco de dados ou de livro-razão com
dados inseridos e transmitidos com segurança, rapidez e transparência.
Sem um órgão central de controle, essa tecnologia funciona como uma
espécie de corrente de blocos criptografados, com cada elo fechado
depois de determinado tempo. Nenhuma informação pode ser retirada ou
mudada porque todos os blocos estão conectados entre si por senhas
criptografadas.
Qual a diferença em relação às demais criptomoedas?
As criptomoedas obedecem à lei da demanda e
da oferta, com o valor flutuando diariamente, como uma ação de uma
empresa. Sem garantia de bancos centrais e de governos, a cotação das
criptomoedas oscila bastante, podendo provocar perdas expressivas de
valor de um dia para outro.
Atrelado às moedas oficiais, o CBDC oscila
conforme a taxa diária de câmbio, determinada pelos fundamentos e pelas
políticas econômicas de cada país. A taxa de câmbio, no entanto, só
representa diferença para operações entre países diferentes. Para
transações internas, o Drex valerá o mesmo que o papel-moeda.
Outra diferença em relação às criptomoedas está no sistema de produção. Enquanto moedas virtuais como Bitcoin, Ethereum
e outras podem ser “mineradas” num computador que resolve algoritmos e
consome muita energia, o Drex será produzido pelo Banco Central, com
paridade em relação ao real.
Qual a diferença do Drex para o Pix?
Embora possa ser considerado primo do Pix,
por permitir pagamentos instantâneos entre instituições financeiras
diferentes, o Drex funcionará de maneira distinta. No Pix, a
transferência ocorre em reais e obedece a limites de segurança impostos
pelo BC e pelas instituições financeiras. No Drex, a transferência
utilizará a tecnologia blockchain, a mesma das criptomoedas. Isso permitirá transações com valores maiores.
Que serviços poderão ser executados com o Drex?
Serviços financeiros em geral, como
transferências, pagamentos e até compra de títulos públicos. Os
consórcios habilitados pelo Banco Central poderão desenvolver mais
possibilidades, como o pagamento instantâneo de parcelas da casa
própria, de veículos e até de benefícios sociais,
conforme anunciado pelo consórcio formado pela Caixa Econômica Federal,
a Microsoft do Brasil e a bandeira de cartões de crédito Elo.
O Drex permitirá o uso de contratos
inteligentes. No caso da venda de um veículo, não haveria a discussão se
caberia ao comprador depositar antes de pegar o bem ou se o vendedor
teria de transferir os documentos antes de receber o dinheiro. Todo o
processo passará a ser feito instantaneamente, por meio de um contrato
automatizado, reduzindo o custo com burocracias, intermediários e
acelerando as operações.
Como se dará o acesso ao Drex?
Prevista para chegar ao consumidor no fim de
2024 ou início de 2025, o Drex só funcionará como uma moeda de atacado,
trocada entre instituições financeiras. O cliente fará operações com a
moeda digital, mas não terá acesso direto a ela, operando por meio de
carteiras virtuais.
O processo ocorrerá da seguinte forma.
Primeiramente, o cliente (pessoa física ou empresa) deverá depositar em
reais a quantia desejada numa carteira virtual, que converterá a moeda
física em Drex, na taxa de R$ 1 para 1 Drex. Essas carteiras serão
operadas por bancos, fintechs, cooperativas, corretoras e
demais instituições financeiras, sob a supervisão do BC. Novos tipos de
empresas com carteira virtual poderão ser criados, conforme a evolução
da tecnologia.
Após a tokenização (conversão de ativo real
em ativo digital), o cliente poderá transferir a moeda digital, por meio
da tecnologia blockchain. Caberá ao receptor converter os Drex em reais e fazer a retirada.
A tokenização pode ser definida como a
representação digital de um bem ou de um produto financeiro, que
facilita as negociações em ambientes virtuais. Por meio de uma série de
códigos com requisitos, regras e processos de identificação, os ativos
(ou frações deles) podem ser comprados e vendidos em ambientes virtuais.
Testes
Em março, o BC escolheu a plataforma Hyperledger Besu para fazer os testes com ativos de diversos tipos e naturezas. Essa plataforma tem baixos custos de licença e de royalties de tecnologia porque opera com código aberto (open source).
Em junho, o BC escolheu 16 consórcios para participar do projeto piloto. Eles construirão os sistemas a serem acoplados ao Hyperledger Besu
e desenvolverão os produtos financeiros e as soluções tecnológicas. A
lista completa de entidades selecionadas pelo Comitê Executivo de Gestão
está no site do BC.
Previstos para começarem em setembro, os
testes com os consórcios ocorrerão com operações simuladas e testarão a
segurança e a agilidade entre o real digital e os depósitos tokenizados
das instituições financeiras. A testagem será feita em etapas até pelo
menos fevereiro do próximo ano, quando ocorrerem operações simuladas com
títulos do Tesouro Nacional.
Ativos
Os ativos a serem testados no projeto piloto serão os seguintes:
- Depósitos de contas de reservas bancárias.
- Depósitos de contas de liquidação.
- Depósitos da conta única do Tesouro Nacional.
- Depósitos bancários à vista.
- Contas de pagamento de instituições de pagamento.
- Títulos públicos federais.