Neste domingo (24), a Lei 10.436/2002,
que reconhece a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como uma das
línguas oficiais do país, completa 20 anos. Para marcar a data, foi
criado o Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais (Libras), visando
comemorar essa forma de comunicação utilizada pela comunidade surda, que
constitui também importante ferramenta para a inclusão social.
De acordo com o grupo educacional Uníntese,
fundado em 2004 e focado na educação online, com abrangência nacional,
ofertando formação e qualificação profissional, conteúdos e serviços
educacionais inovadores, incluindo a Escola de Libras, a história da
Língua Brasileira de Sinais remonta a meados do século 19. Foi nessa
época que o imperador Dom Pedro II convidou o francês Ernest Huet a vir
ao Brasil adaptar à realidade brasileira o modelo de linguagem de sinais
que era usado na França.
A partir daí, foi desenvolvida a Língua
Nacional de Sinais. Algum tempo depois, em 1857, por ordem do imperador,
foi fundado o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos (IISM), no Rio de
Janeiro, que atendia então apenas a homens. Com o passar do tempo, o
instituto evoluiu e funciona até hoje, com o nome de Instituto Nacional
de Educação de Surdos (Ines).
Enem
A professora Bruna Enne, do Sinaliza Enem, primeiro cursinho pré-vestibular online do Brasil em Libras, disse à Agência Brasil
que, especialmente para o surdo que vai fazer o vestibular, a Libras é
muito importante. “Desde 2017, o Exame Nacional do Ensino Médio tem uma
versão traduzida - o Enem Libras - e isso, para o surdo, é uma conquista
muito grande.”
Bruna lembrou que, no próprio ano de 2017, o
tema da redação do Enem foi Educação de Surdos, para confirmar a
importância que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (Inep) estava tentando dar para a educação de surdos à
época.
A versão da prova em Libras foi um avanço
grande, disse Bruna Enne. “Muitos dos nossos alunos não são fluentes em
português. Eles têm uma dificuldade muito grande”. Apesar disso, a
professora do Sinaliza Enem disse que a redação ainda é feita em
português. “É como se eles tivessem que fazer na segunda língua
deles.” Isso constitui uma dificuldade maior, admitiu. “Seria o
equivalente a um aluno ouvinte fazer a prova do Enem em inglês, por
exemplo.”
Alice Marina foi aluna de Bruna no cursinho
em Libras, fez o Enem e passou para o curso de administração na
Universidade Estadual do Paraná (Unespar). As aulas começam no mês que
vem. Alice contou à Agência Brasil que ter se preparado
em um curso especializado em Libras ajudou-a a passar no Enem. “Porque a
nossa língua é Libras.” A estudante disse que saber Libras ajuda muito
na inclusão do surdo não só na escola, mas em todas as áreas.
Marco histórico
A professora de Libras no Ines Priscilla
Cavalcante encontra-se licenciada, no momento, para estudos de doutorado
em linguística, pela Universidade Federal de Santa Catarina. Também
surda como seus alunos, ela considera a data de 24 de abril “um marco
histórico para a comunidade surda devido à Lei 10.436/2002, que
reconhece a língua de sinais brasileira como língua das pessoas surdas
brasileiras”. Para ela, é “uma vitória para todos nós após anos de luta
pelo direito linguístico, apesar de estar garantido pela convenção
internacional sobre os direitos da pessoa com deficiência”.
Priscila disse que, após a lei ser
reconhecida em território nacional, ao longo dos últimos 20 anos
“tivemos mais visibilidade e mobilizações a favor da comunidade surda,
em prol da minoria linguística”.
Jessica Cosso é surda e exerce a função de
colaboradora das áreas social, cultural e de mídia da Associação de
Surdos do Rio de Janeiro (Asurj), entidade social e desportiva de
surdos, fundada em março de 1955. Segundo ela, a comemoração do Dia
Nacional de Libras “é muito importante para a comunidade surda”. “Com
essa lei, temos acesso à educação, podemos aprender igual aos demais. E
também (temos) acesso cultural, como a teatro.”
Jessica destacou ainda que a lei dá
garantia, no futuro, de qualquer criança surda ter acesso ao lazer, à
educação, à saúde, assim como as demais crianças.
Neide lembrou também que a TV Brasil
é a primeira emissora de TV que tem intérprete de Libras em programas
de rádio que são adaptados e transmitidos na televisão e nas redes
sociais. “Foi a primeira vez que o surdo teve acesso a saber o que é o
programa [de rádio] mais antigo do Brasil, que é A Voz do Brasil”, disse Brenda. “Era uma coisa que parecia impossível e a Emissora trouxe essa oportunidade, com acessibilidade.”
Informações: ebc
Post: G. Gomes