O
Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), alertou
que o aumento dos gastos públicos e a incerteza sobre as contas em 2023
podem elevar as expectativas de inflação e informou que retomará o ciclo
de alta da taxa básica de juros, a Selic, caso o processo de
desinflação não transcorra como esperado.

Em reunião na semana passada, diante da queda da inflação dos últimos meses, o Copom manteve a Selic em 13,75% ao ano.
“O Comitê avalia que o aumento de gastos de
forma permanente e a incerteza sobre sua trajetória a partir do próximo
ano podem elevar os prêmios de risco do país e as expectativas de
inflação à medida que pressionem a demanda agregada e piorem as
expectativas sobre a trajetória fiscal. O Comitê reitera que há vários
canais pelos quais a política fiscal pode afetar a inflação, incluindo
seu efeito sobre a atividade, preços de ativos, grau de incerteza na
economia e expectativas de inflação”, disse a ata da última reunião do
Copom, divulgada hoje (1º), em Brasília.
Juros
Ao optar pela manutenção da taxa de juros, o
colegiado reforçou a necessidade de avaliação, ao longo do tempo, dos
impactos acumulados “do intenso e tempestivo ciclo de política monetária
já empreendido”. A taxa continua no maior nível desde janeiro de 2017,
quando também estava em 13,75% ao ano.
Essa foi a segunda
vez seguida em que o BC não mexe na taxa, que permanece nesse nível
desde agosto. Anteriormente, o Copom tinha elevado a Selic por 12 vezes
consecutivas, num ciclo que começou em meio à alta dos preços de
alimentos, de energia e de combustíveis.
“O Comitê reforça que irá perseverar até que
se consolide não apenas o processo de desinflação como também a
ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê enfatiza que
não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de
desinflação não transcorra como esperado”, esclarece a ata.
Para o Copom, já são perceptíveis os
impactos do aumento dos juros nos dados de crédito e atividade
econômica. “Nota-se um impacto nos dados recentes referentes tanto à
composição das concessões de crédito para as famílias quanto ao aumento
moderado da inadimplência, em parte associados a uma dinâmica na renda
real disponível que sugere retração”, avaliou.
Ainda assim, para o colegiado, a inflação ao
consumidor segue elevada, apesar da queda recente e dos efeitos do
corte de impostos em itens como combustíveis e energia elétrica.
“As divulgações recentes foram fortemente
influenciadas pela redução de preços administrados, em função tanto da
queda de impostos quanto, em menor medida, das quedas dos preços
internacionais de combustíveis. Além disso, itens relacionados a bens
industriais, refletindo a queda mais intensa dos preços ao produtor e a
distensão das pressões nas cadeias globais de valor, também apresentaram
desaceleração. No entanto, os componentes mais sensíveis ao ciclo
econômico e à política monetária, que apresentam maior inércia
inflacionária, mantêm-se acima do intervalo compatível com o cumprimento
da meta para a inflação”, esclarece a ata do Copom.
Inflação
A taxa Selic é o principal instrumento usado
pelo Banco Central para alcançar a meta de inflação. A elevação da
Selic, que serve de referência para as demais taxas de juros no país,
ajuda a controlar a inflação, porque a taxa causa reflexos nos preços,
já que juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança,
contendo a demanda aquecida.
Em setembro, houve deflação de 0,29%,
o terceiro mês seguido de queda no indicador. Com o resultado, o Índice
de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 4,09% no ano e
7,17% em 12 meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
Para decidir sobre a manutenção da Selic, o
comitê estabeleceu um cenário básico para a inflação, com as projeções
em 5,8% para 2022, 4,8% para 2023 e 2,9% para 2024. As estimativas para a
inflação de preços administrados são de deflação de 3,9% para 2022, e
altas de 9,4% para 2023 e de 3,8% para 2024.
O Copom adotou uma hipótese de bandeira
tarifária “verde” em dezembro de 2022 e “amarela” em dezembro de 2023 e
de 2024, além de taxa de câmbio partindo de US$ 5,25 e preço do petróleo
seguindo a curva de alta pelos próximos seis meses e aumentando 2% ao
ano posteriormente.
A previsão para 2022 está acima do teto da
meta de inflação que deve ser perseguida pelo BC. A meta - definida pelo
Conselho Monetário Nacional - é de 3,5% para este ano, com intervalo de
tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o
limite inferior é de 2% e o superior de 5%.
Nota-se ainda que o BC elevou a projeção de inflação para 2023 - de 4,6% para 4,8% - em relação à reunião do Copom de setembro.
Assim, a entidade também já considera o estouro do teto da meta no
próximo ano. Para 2023 e 2024, as metas fixadas são de 3,25% e 3%,
respectivamente, também com os intervalos de tolerância de 1,5 ponto
percentual. Ou seja, para 2023 os limites são 1,75% e 4,75%.
Conjuntura econômica
Para o BC, o cenário básico para a inflação
envolve fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta
figura uma maior persistência das pressões inflacionárias globais. Além
disso, há a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e
estímulos fiscais adicionais.
Entre os riscos de baixa, o Copom destaca uma queda adicional dos preços das commodities
[produtos primários] internacionais em moeda local, uma desaceleração
da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada e a
manutenção dos cortes de impostos projetados para serem revertidos em
2023.
Para o Banco Central, no âmbito doméstico,
o conjunto de indicadores econômicos continua sinalizando crescimento
na margem, ainda que em ritmo mais moderado, e o mercado de trabalho
segue se recuperando, mas em menor ritmo do que nos meses anteriores.
“Os dados de atividade, que contribuem para a
avaliação do grau de ociosidade, indicam um ritmo de crescimento mais
moderado na margem. Por um lado, o ímpeto da reabertura da economia no
setor de serviços e os estímulos fiscais ainda impulsionam o crescimento
do consumo, embora esses impulsos devam arrefecer. Por outro, o impacto
da política monetária e suas defasagens aponta para uma redução do
ritmo da atividade econômica, que tende a se acentuar nos próximos
trimestres”, diz a ata.
Pressão inflacionária
No cenário internacional, o Copom avalia que
o “compromisso e a determinação dos bancos centrais em reduzir as
pressões inflacionárias e ancorar as expectativas elevam o risco de uma
desaceleração global mais pronunciada”. “Houve um ajuste na extensão e
na velocidade do ciclo de aperto de política monetária em alguns países
avançados, o que provocou um novo aperto de condições financeiras”,
destacou.
“O aperto das condições financeiras nas
principais economias, a continuidade da Guerra na Ucrânia, com suas
consequências sobre o fornecimento de energia para a Europa, e a
manutenção da política de combate à Covid-19 na China reforçam uma
perspectiva de desaceleração do crescimento global nos próximos
trimestres”, finalizou a ata do Copom.Post: G. Gomes
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Informações: Banco Central do Brasil