Estimativa
do Instituto Nacional do Câncer (Inca) indica o surgimento de 44 mil
novos casos por ano de câncer de intestino, ou câncer colorretal, no
Brasil, com 70% concentrados nas regiões Sudeste e Sul. “É uma doença
muito prevalente. É a terceira. Ela vai perder para [câncer de] mama,
vai perder para [câncer de] próstata. Em terceiro lugar, vem o câncer
colorretal”, disse o cirurgião oncológico Rubens Kesley, coordenador do
Grupo de Câncer Colorretal do Inca.

De acordo com o especialista, países
desenvolvidos, como os Estados Unidos, tendem a apresentar maior número
de novos casos desse tipo de câncer a cada ano. Entre os
norte-americanos, que têm população em torno de 300 milhões de
habitantes, a estimativa é de surgimento de 150 mil novos casos anuais.
Como o Brasil está melhorando, progressivamente, sua condição
socioeconômica, a perspectiva é de expansão de casos. “Há aumento
vertiginoso. É uma curva acentuada”.
Rubens Kesley lembrou que há cinco anos, o
Brasil apresentava 25 mil casos novos/ano de câncer colorretal, e a
expectativa para o próximo quinquênio é atingir 80 mil casos/ano. “De
uma maneira mais simples: hoje, são 44 mil e aumentando. E vai subir
bastante a incidência”.
Fatores
A alimentação pobre em fibras está
relacionada ao aumento do número de casos de câncer colorretal,
confirmou o cirurgião oncológico. Isso se explica porque, à medida que
as condições socioeconômicas de um país melhoram, as pessoas passam a
comer mais alimentos industrializados e ultraprocessados e deixam de
comer alimentos com fibras. “A fibra é como se fosse um varredor.
Imagina uma vassourinha que limpa o cólon, o intestino grosso. Quando
você deixa de usar a vassourinha, o lixo vai se acumulando. Então, a
falta de alimentos ricos em fibras faz com que aumente muito a
incidência".
Outro fator que pode levar ao câncer
colorretal é a carne vermelha, especialmente aquela usada em churrascos,
queimada, com muita gordura. “Porque ela é rica em hidrocarbonetos, que
são muito cancerígenos”. A carne cozida é melhor. Outras coisas que
favorecem o surgimento de câncer do intestino são tabagismo,
sedentarismo, etilismo, obesidade, principalmente na barriga. Entre
esses, Kesley destacou como fatores principais para o desenvolvimento do
câncer colorretal a obesidade, falta de atividade física e os alimentos
industrializados e pobres em fibras. “Esses são, realmente, o
carro-chefe dos fatores de risco mais agressivos”.
Outro cuidado que se deve ter é com a saúde
bucal, porque há uma bactéria na boca que favorece o desenvolvimento da
doença. “Essa bactéria se associa a uma incidência altíssima de câncer
colorretal”. Estudo recente de pesquisadores da Escola de Odontologia de
Columbia, em Nova York, mostrou como o Fusobacterium nucleatum,
uma das bactérias da boca, pode acelerar o crescimento desse tipo de
câncer. Daí a importância da profilaxia bucal, recomendou o médico.
Colonoscopia
Em todo o mundo, a colonoscopia foi o método
considerado mais eficiente para a prevenção do câncer colorretal,
afirmou Kesley. Isso se explica porque o câncer do intestino não começa
grande. “Ele é descoberto grande. Mas já foi um pólipo, já foi
pequenininho”. Nesse estágio, a colonoscopia retira esses pequenos
pólipos. A colonoscopia é uma arma, comparável a uma bomba nuclear,
contra o câncer colorretal, porque ela consegue prevenir, identificar
precocemente, ver ainda na fase de pólipo, e consegue tratar, porque
remove o pólipo, sem precisar de cirurgia, economizando milhões. No
diagnóstico, o médico identifica que ali há um tumor, e no tratamento,
se houver um pequeno tumor, você já cura o doente. O câncer é removido
por colonoscopia, em algumas situações selecionadas.
O prazo para refazer o exame de colonoscopia
vai depender se houver pólipo. Se o paciente faz a colonoscopia e está
tudo normal, ele pode repetir o exame a cada cinco anos. Se tiver pólipo
de um tipo específico (adenoma), que é precursor do câncer colorretal, o
paciente deve repetir a colonoscopia no ano seguinte. O prazo para
renovação do exame se estende, portanto, de um a cinco anos.
Idade certa
Para a grande maioria da população, que não
tem história de câncer na família, são pacientes de vida saudável, com
risco muito baixo, que não fumam nem bebem, têm evacuação diária normal,
o ideal é fazer colonoscopia aos 55 anos de idade. “Mas isso tem que
ser visto pelo coloproctologista. Essa é uma decisão médica porque,
dependendo do risco, você pode precisar antes”, advertiu o especialista.
No caso, por exemplo, de pessoas que
têm histórico de câncer na família, como ocorreu com a atriz Angelina
Jolie, elas não podem esperar. Têm que procurar um bom profissional que
dirá qual o melhor momento para fazer colonoscopia.
Esse exame pode ser feito, entretanto, antes
dos 55 anos, na presença de sintomas. Pacientes com anemia ou com dores
de repetição (cólicas intestinais) devem procurar um médico para
afastar o risco de um câncer colorretal. Nesse caso, são pacientes com
alterações do hábito intestinal, ou seja, a frequência com que evacuam,
que abrangem diarreias ou constipação com cólica.
Estágio avançado
Segundo Rubens Kesley, a falta de
colonoscopistas, principalmente no interior do país, faz com que a
maioria dos pacientes seja diagnosticada com câncer de intestino em
estágio avançado, como ocorreu com os jogadores de futebol Pelé e
Roberto Dinamite. “Normalmente, esse estágio avançado é fator
determinante da gravidade do câncer”. Ou seja, o estágio da doença é que
determina o prognóstico.
O cirurgião do Inca ressaltou, por outro
lado, que a evolução do tratamento foi tão grande nos últimos anos que
mesmo que o estágio seja muito avançado, há possibilidade de sobrevida.
Do total de doentes com câncer colorretal, 20% sobrevivem, 80% morrem.
“Vale a pena o paciente correr atrás porque, mesmo que o estágio seja
muito avançado, ele pode ser curado”. A chance de cura é menor. De cada
cinco pacientes com câncer avançado, um vai sobreviver. “Mas há chance.
Se a gente consegue salvar um em cinco, é um grande avanço”, afirmou
Kesley.
Ele admitiu, entretanto, que o câncer ainda é
um desafio para a ciência. A doença é uma mutação do DNA, que está
protegido por duas membranas. Infelizmente, não há drogas hoje capazes
de reorganizar o DNA. Então, quando um paciente já tem uma doença que é
resistente à quimioterapia e à radioterapia e já se espalhou, o
tratamento do câncer se torna ineficiente. No caso de Pelé e Roberto
Dinamite, o tumor já havia se tornado resistente à quimioterapia e à
radioterapia, e a cirurgia se tornou fútil. Ou seja, quando as células
cancerígenas já se espalharam, a possibilidade de cura é muito reduzida.Post: G. Gomes
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Informações: INCA