Lula da Silva disse, nesta quinta-feira em tom de deboche,
que o Brasil não precisa ter um sistema de metas de inflação “tão
rígido”. O alongamento das metas será um dos temas discutidos na reunião desta quinta-feira do Conselho Monetário Nacional (CMN).

“O Brasil não precisa ter uma meta de
inflação tão rígida, como estão querendo impor agora, sem alcançar. A
gente tem que ter uma meta que a gente alcança; alcançou aquela meta, a
gente pode reduzir e fazer mais um degrau, descer mais um degrau. É para
isso que a política monetária tem que ser móvel, ela não tem que ser
fixa e eterna, ela tem que ter sensibilidade em função da realidade da
economia, das aspirações da sociedade”, disse Lula em entrevista à Rádio Gaúcha, de Porto Alegre.
Nesta quarta-feira (28/06/2023), o ministro da
Fazenda, Fernando Haddad, defendeu o modelo de meta contínua.
Atualmente, o Banco Central (BC) persegue uma meta de inflação
estabelecida a cada ano, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto
percentual para mais ou para menos. No sistema de meta contínua, usado
em vários países desenvolvidos, o horizonte pode ser aberto ou obedecer a
um prazo maior que um ano, como 18 ou 24 meses.
Para este ano, a meta de inflação do Brasil
está fixada em 3,25% e, para 2024 e 2025, em 3%, todas com a mesma
margem de tolerância. Com reuniões mensais, o CMN é formado por Haddad;
pela ministra do Planejamento, Simone Tebet; e pelo presidente do BC,
Roberto Campos Neto. Geralmente, as decisões ocorrem por consenso, mas,
caso haja divergências, são decididas por maioria de voto.
“Eu espero que o Haddad e a Simone tenham toda maturidade para tomar a decisão que acham que devem tomar”, disse Lula.
Críticas aos juros
O presidente criticou, novamente, a manutenção da taxa básica de juros da economia, a Selic, em 13,75%. Definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom),
a Selic está em seu maior nível desde janeiro de 2017. Em março do ano
passado, o BC iniciou um ciclo de aperto monetário, em meio à alta dos
preços de alimentos, de energia e de combustíveis.
A taxa básica é o principal instrumento
usado pelo BC para alcançar a meta de inflação definida pelo CMN. O seu
aumento causa reflexos nos preços, já que juros mais altos encarecem o
crédito e estimulam a poupança, contendo a demanda aquecida. Em sentido
contrário, quando o Copom diminui a Selic, a tendência é de que o
crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo,
reduzindo o controle sobre a inflação e estimulando a atividade
econômica.
Em abril, influenciado pelo aumento dos preços de remédios,
o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,61%,
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O
resultado é inferior à taxa de março, de 0,71%. Em 12 meses, o indicador
acumula 4,18%.
O presidente Lula reafirmou que, com a
inflação em baixa, não há explicação para o atual patamar da Selic. Os
efeitos do aperto monetário são sentidos no encarecimento do crédito e na desaceleração da economia.
“Nós não temos inflação de demanda”,
argumentou Lula. “Não tem um setor da economia, a não ser o setor
financeiro [a favor], todo mundo [é] contra esse absurdo dessa taxa de
juro, que ninguém pode captar dinheiro para investir, a 14%, 15%, 16% de
juros as pessoas vão quebrar. Então, é preciso reduzir a taxa de juros
para que ela fique compatível, inclusive com a inflação. A inflação em
12 meses está menos que 5%, por que a taxa de juro tem que estar nesse
nível? Qual é a explicação? Não existe explicação”, disse.
Lula cobrou a intervenção do Senado, que aprovou a autonomia do BC
e o nome de Campos Neto para a presidência do BC, indicado pelo
ex-presidente Jair Bolsonaro. “O Senado, quando aprovou a autonomia do
Banco Central, ele estabeleceu alguns critérios para o Banco Central, um
deles é cuidar da inflação e outra é cuidar do crescimento e cuidar do
emprego, e ele [Campos Neto, até agora, tem cuidado pouco”, criticou o
presidente.
“Não é o Lula [que faz as críticas], não é o
presidente, é o povo brasileiro, são os sindicatos, os empresários da
indústria, do comércio, do turismo, do varejo, inclusive os agricultores
do Brasil inteiro são contra essa taxa de juros. Então esse cidadão vai
ter que pensar e o Senado vai ter que saber como lidar com ele”,
acrescentou o presidente.
Durante a entrevista à Rádio Gaúcha,
o presidente destacou que o novo programa de infraestrutura do governo
deve destinar R$ 5,7 bilhões para o Rio Grande do Sul em estradas e
pontes, além de R$ 2 bilhões da iniciativa privada, por meio de
parcerias público-privadas.
Lula lembrou que o governo solicitou aos
governadores uma lista de obras prioritárias e que, nos próximos dez
dias, o novo plano de investimentos deve ser anunciado. O total para o
país deve chegar a R$ 23 bilhões na área de transportes.
“Não é possível um presidente da República
governar sem estar intimamente ligado à administração do governo do
estado”, disse. “É uma coisa que vem de baixo para cima, porque não
adianta eu inventar uma obra que eu acho que é interessante pro Rio
Grande do Sul, quem tem que ver qual é a obra importante é o governador
do estado, são os prefeitos da cidade, e são eles que nós precisamos
atender”, acrescentou.
Agenda no RS
Nesta sexta-feira dia 30 de Junho de 2023, Lula estará no Rio
Grande do Sul, onde participa de cerimônia de entrega de residências do
Minha Casa, Minha Vida, em Viamão, e visita o Hospital de Clínicas de
Porto Alegre, na capital gaúcha. Está previsto ainda um almoço com o
governador do estado, Eduardo Leite.Post: G. Gomes
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Informações: governo lula