Freud explica: Por que um 'grande pai' não resolve os problemas do País
Uma crise política parece ter se instaurado no Brasil neste início de segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Argumenta-se que a corrupção se tornou insuportável, que é hora de moralizar o País. Outros defendem que esse descontentamento vem de uma parcela privilegiada da população, que não aceita ver camadas mais pobres ascenderem socialmente. Também muita gente diz que o verdadeiro problema está no Congresso. O fato é que há uma insatisfação geral nas ruas, como foi visto em março e abril.
As propostas que apareceram foram variadas: desde a reforma política até a intervenção militar. E é justamente essa última reivindicação — pela volta dos anos de chumbo — que chama mais atenção.
Pelo que se viu nas ruas, há quem acredite que os militares poderão resolver todos os problemas do País e "colocar ordem na casa”. Não é a primeira vez que essa expectativa surge em parte da população: a de que um salvador solucione os impasses da nação.
O Brasil Post conversou com o psicanalista Christian Dunker, professor titular do Instituto de Psicologia da USP, autor do livro "O Mal Estar, Sofrimento e Sintoma".
Ele explica que a busca de uma resolução simples para os problemas do País, com o empoderamento de um pretenso salvador, não tem nada de nova, e hoje aparece como uma espécie de regressão:
"Essa é uma ideia entranhada na origem do patriarcado. Na Idade Média, tinha o papa legitimando o poder dos reis, depois só o reis. Na modernidade, a ideia de chefe de Estado intrincada com o chefe da família se alimentavam mutuamente."
Para o psicanalista, existe um declínio dessa autoridade desde o século 17.
"O patriarcado declina até hoje, não se aceita mais isso. Foi uma forma de poder que funcionou. A graça é que não se tolera mais, é percebido como algo anacrônico. Remonta à formação dos Estados Nações, que é o populismo."
Nessa estrutura ultrapassada de poder, a identidade do chefe de Estado decorre da identidade do pai na família, da autoridade que não pode ser questionada. "É alguém a quem se atribui a posição ao destino, vocação, uma essência daquela pessoa", comenta o professor da USP.
Essa questão foi analisada pela teoria social e pela psicanálise do século 19, que buscavam entender quem tinha carisma para enfrentar o poder sistêmico e dominá-lo.
"É uma forma de poder mais arcaica, mas nos momentos de crise a gente tende a regredir para formas mais arcaicas do poder. Quando temos uma anomia [crise de normas e valores], uma indeterminação das regras do jogo, a pessoa começa a se angustiar, aí regride para formas mais simples de tratar e resolver o conflito."
Um governo militar seria, na avaliação do psicanalista, um exemplo clássico de uma forma de poder arcaico.
Ainda que seja um tanto remota, regredir para um quadro social no qual o poder patriarcal encontra legitimidade, ainda é uma possibilidade, conforme alerta o professor da USP.
"Sob determinadas circunstâncias, formas de poder arcaicas podem encontrar ressonância social. No Brasil temos esse risco pelo discurso religioso, que reverbera essa forma de poder ligado à família. Apesar do anacronismo, é possível acontecer, mesmo no Brasil."
Post: G.Gomes
Escrito Por: Pedro Sibahi
Conteúdo: Brasil Post
Canal: www.deljipa.blogspot.com.br
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