Por: Alexandre Andrada
Há algum tempo o músico Jards Macalé tornou-se um entusiasta e propagador da campanha para incluir a palavra "amor" no lema da bandeira nacional.
Resgataríamos, assim, o lema positivista em sua plenitude: "O Amor por princípio, a Ordem por base e o Progresso por fim".
Inspirado no mestre, lanço aqui minha campanha civilizatória.
Sugiro que mudemos o nome de nossa pátria.
Essas terras já foram chamadas de "República dos Estados Unidos do Brasil", nome pouco criativo e com um quê de vira-latismo.
Passamos, então, para o atual "República Federativa do Brasil", nome insosso e impreciso.
Defendo que nos rebatizemos de "Republiqueta Cleptocrática do Brasil".
Assim como nos falta amor, mestre Macalé, nos faltam verdade e precisão.
Por amor à verdade, deveríamos trocar "República" por "Republiqueta"
Segundo o Houaiss o primeiro termo significa:
"1 - forma de governo em que o Estado se constitui de modo a atender o interesse geral dos cidadãos e 2 - forma de governo na qual o povo é soberano...".
Já "Republiqueta" significa:
"1 - república pequena ou insignificante; 2 - república em que regularmente os direitos dos cidadãos são violados".
Federação é a
"1 - união política e/ou econômica instituída entre estados relativamente autônomos, associados sob um governo central soberano".
Enquanto "Cleptocracia" é o
"regime político-social em que práticas corruptas, especialmente com o dinheiro público, são implicitamente admitidas ou mesmo consagradas".
Vejam se estou ou não com a razão.
Imagine um país no qual o presidente da Câmara dos Deputados supostamente tem alguns milhões de dólares (não declarados e de origem nebulosa) na Suíça. Os quais são usados, entre outras coisas, para pagar lições de tênis em Miami para sua digníssima esposa.
Imagine que entre os 11 sucessores desse presidente, 8 respondem a processos ou foram condenados pela Justiça. Um recebia mesada de doleiro, outro foi acusado por sequestro e cárcere privado, falsidade ideológica e formação de quadrilha, outro gosta de ter pessoas em condições análogas à escravidão...
Dos 513 deputados eleitos em 2014, 39 respondiam a processos criminais.
Um deles, o sr. Paulo Maluf, tem a honra de ser procurado pela Interpol. (if you have any information please contact...)
Imagine um país no qual o presidente do Senado renunciou ao cargo quando surgiram denúncias de que as despesas de um filho seu eram supostamente pagas por um lobista. (Renan ainda responde inquéritos no STF relativos a denúncias de peculato, uso de documento falsos e falsidade ideológica nesse caso).
E imagine que esse camarada é eleito novamente para presidente do Senado e que um dos delatores do processo da Lava Jato o acusa de ter recebido propina de negócios da Petrobras.
Nunca é demais lembrar que esse colosso da moralidade foi líder do governo Collor e ministro da Justiça no governo FHC.
E mais: cerca de 40% dos senadores respondem a ações ou inquéritos judiciais no Supremo Tribunal Federal.
Imagine que um desses senadores - comprovadamente enganado por um de seus funcionários que abusou de sua bondade e inocência - viu seu helicóptero capturado pela Polícia Federal, estando recheado com quase meia tonelada de cocaína.
Imagine um ex-presidente da República cujo governo comprou apoio parlamentar através de mesadinha e mensalão.
E que esse ex-presidente recebe 300 mil reais por palestra. E que a lista dos compradores dessas palestras inclui muitas empreiteiras, muitos bancos, muitas empresas com negócios com o governo, muitas que receberam dinheiro barato do BNDES e umas tantas multinacionais imperialistas, caro Lenine.
Nada ilegal, imoral ou que engorda, certo?
Imagine que os filhos desse ex-presidentes são dois "Ronaldinhos" dos negócios, recebendo injeções de alguns milhões de reais de empresas com negócios com o governo federal. Tudo por merecimento, sem qualquer irregularidade como corroborado pela Justiça, mostrando o quão sério é nosso país.
Triste é saber que um dos Ronaldinhos esteja sendo falsamente acusado por um delator da Lava Jato de ter tido contas da ordem de 2 milhões de reais pagas com dinheiro sujo
Imagine amigo John, apenas imagine.
Agora me digam. É ou não é uma Republiqueta? É ou não é uma Cleptocracia?
E pior, toda vez que aparece algum camarada que faz da moralidade sua bandeira, nos ensina a nossa história que é bom abrir os olhos e segurar as carteiras.
Aproveito o espaço para mandar abraço para Collor, Dirceu, Genoíno e Demóstenes, grandes moralizadores da coisa pública em nosso país, que são a exceção dessa regra.
Desculpe Mestre Macal, mas o lema da bandeira não deveria ser "amor, ordem e progresso".
Na bandeira da Republiqueta Cleptocrática do Brasil deveria estar escrito: "se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão".
Não fica um!
PS - Mais um verbete do Houaiss:
Ironia
substantivo feminino ( sXV)
1 ret figura por meio da qual se passa uma mensagem diferente, muitas vezes contrária, à mensagem literal, ger. com objetivo de criticar ou promover humor [A ironia ressalta do contexto.]
1.1 lit esta figura, que se caracteriza pelo emprego inteligente de contrastes, us. literariamente para criar ou ressaltar certos efeitos humorísticos
2 m.q. asteísmo ('uso sutil e delicado da crítica irônica')
3 qualquer comentário ou afirmação irônica
4 p.ext. uso de palavra, expressão ou acepção de caráter sarcástico; zombaria
5 fig. contraste ou incongruência entre o resultado real de uma sequência de acontecimentos e o que seria o resultado normal ou esperado
5.1 fig. acontecimento ou resultado marcado por esse contraste ou incongruência
‹ uma i. do destino ›
Post: G.Gomes
Autor:Alexandre Andrada
Professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB
Canal: www.deljipa.blogspot.com.br
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