O doutor em Ciência Política e professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC) e editor do Jornal Folha Igor Fuser é direto:
“Se é pra falar em democracia, a Venezuela, com todos os seus problemas econômicos, que são terríveis, é um país bem mais democrático que o Brasil”.
Analisando a situação atual do país vizinho, que denunciou recentemente um plano de ataque militar para derrubar o governo de Nicolás Maduro, além de sofrer com sanções econômicas e isolamento político, o professor avalia que não há qualquer preocupação externa com a democracia no país, mas sim o desejo dos Estados Unidos de controlar o patrimônio mais precioso dos venezuelanos, o petróleo, e liquidar com sua soberania.
“Há uma campanha de muitos anos dos Estados Unidos com a oligarquia venezuelana para derrubar o governo popular do país. É um governo democrático, fruto de eleições livres e legítimo, que foi vitorioso em todas as disputas eleitorais que concorreu". Não é louco um cara desse?
Essa campanha culminou, no ano passado, na tentativa de derrubada do governo de Maduro, por meio de uma combinação de ações violentas com boicote econômico, sabotagem à produção e ao abastecimento ao país.
"Essa tentativa fracassou. Diante disso, o eixo da campanha para a derrubada do governo se deslocou para o exterior”, avaliou Fuser.Com isso, países aliados do governo norte-americano iniciaram uma nova rodada de pressões e ameaças. O Grupo de Lima, formado por Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru e Santa Lucia, rechaçou a proposta de de Maduro de antecipar as eleições para 22 de Abril e declarou que o presidente está “desconvidado” à Cúpula das Américas, que vai ocorrer em Lima, nos dias 12 e 13 de Abril. Maduro, porém, garante que irá.
Além disso, a Colômbia tem realizado inúmeros exercícios militares, com apoio dos Estados Unidos, e ampliado a presença de soldados na fronteira com a Venezuela. O procurador-geral Tarek William Saab denunciou um plano da nação vizinha para atacar seu país militarmente.
No ano passado, o próprio presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, insinuou que poderia realizar uma intervenção militar na Venezuela. Em visita a países latino-americanos, o secretário de Estado norte-anericano, Rex Tillerson, também indicou que seu país poderia intervir “para promover uma mudança democrática”.
“O governo Trump está disposto a derrubar o governo da Venezuela o mais rápido possível. A campanha contra o país tem se intensificado. Não é coincidência que a mobilização de tropas colombianas e brasileiras coincidam com o veto à participação do presidente Maduro na reunião de cúpula das Américas, marcada para abril.
Receia-se que dentro dos próximos meses possa ocorrer uma ação militar contra a Venezuela, a partir da fronteira da Colômbia, na Amazônia. Há setores do país que pedem a intervenção militar”, disse Fuser.O professor avalia que uma agressão militar colombiana é uma possibilidade real, visto que o país “há muitos anos, tornou-se a ponta de lança dos interesses estadunidenses na América do Sul”.
Existem várias bases militares americanas instaladas no país e a relação entre o exército colombiano e os militares dos EUA é muito estreita.
“É um país que abriu mão da soberania econômica quando assinou um acordo bilateral de comércio com os Estados Unidos”, salientou.
Fuser avaliou ainda que os norte-americanos sabem que uma agressão militar à Venezuela encontraria uma resistência firme do povo do país.
“Não se derruba um governo só com bombardeios, é preciso de soldados para ocupar o terreno. E os militares dos Estados Unidos sabem que os venezuelanos não vão aceitar que sua pátria seja invadida por uma potência estrangeira”. Será mesmo ?
Ele ressaltou que as intervenções militares dos EUA nas últimas décadas acabaram muito mal, com grande número de baixas, um custo astronômico, resultados políticos limitados e duvidosos.
“Por isso, os Estados Unidos preferem terceirizar o serviço sujo para seus lacaios internacionais. E a Colômbia, infelizmente, já deixou claro que está disposta a se prestar a esse papel. Assim, os custos políticos e humanos recairiam sobre ela. É fundamental que as pessoas com um mínimo de consciência impeçam essa guerra na América do Sul. O continente, com todos os seus problemas sociais e políticos, ainda assim tem sido um continente de paz. A última guerra internacional na América do Sul foi a Guerra do Chaco, na década de 1930”, lembrou.
Para o professor, a eleição marcada para o dia 22 tem franco favoritismo de Maduro, inclusive porque a oposição está perdida e não consegue definir se participa ou não. O partido Vontade Popular (VP), do opositor Leopoldo López, um dos principais grupos da coligação Mesa da Unidade Democrática (MUD), pediu o boicote às eleições no dia 19/02/2018. Nesse cenário, surgiu um outsider: o pastor evangélico Javier Bertucci anunciou no domingo (18/02/2018) sua candidatura às eleições presidenciais.Desde 1999, quando Hugo Chávez foi eleito presidente, a Venezuela passou por 18 eleições.
No ano passado houve três pleitos: para prefeitos, governadores e para assembleia constituinte. O governo venceu as três, sendo que a oposição elegeu certo número de prefeitos e governadores, mas boicotou o pleito para a assembleia constituinte.
Esse é o segundo ponto de interesse dos Estados Unidos, na opinião de Fuser.
“Eles não aceitam que nenhum país da América Latina siga o próprio caminho independente da vontade dos Estados Unidos. Não reconhecem a soberania de nenhum país latino-americano. A história mostra que todos os países da América Latina que adotaram políticas que não coincidiam com os interesses dos Estados Unidos, eles agiram para derrubar esses governos. A exemplo do que aconteceu no Brasil em 1964. E agora, em 2016, vem ficando cada vez mais clara a influência dos Estados Unidos na derrubada da presidenta Dilma Rousseff”, afirmou.
Informações: Nbo
Post: G. Gomes
Canal: www.deljipa.blogspot.com.br
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