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04 março, 2019

Somos todos Marilyn Monroe e Grace Kelly, diz Mario Rosa

A vida de celebridade não é mais restrita a Hollywood, diz Mario Rosa
Antigamente, naquele mundo remoto onde não existiam os smartphones, a fantasia vivia num lugar distante e imaginário. Ficava em Hollywood, em Mônaco, e encarnava em ícones inalcançáveis, como Marilyn Monroe e Grace Kelly.

A gente saía da realidade e viajava para o mundo encantado através da imaginação de como poderia ser a vida glamourosa das musas e dos astros do cinema, em suas mansões suntuosas, seus vestidos divinos, seus black ties irretocáveis. Tudo isso consumido através das revistas de celebridades.

Eis que alguns meninos se trancam em garagens no Vale do Silício e, meio sem querer, inventam proezas disruptivas com nomes hoje consagrados, como Facebook, Instagram, WhatsApp, internet, smartphones. Foi a revolução tecnológica. E o mundo da imaginação se deslocou do lugar distante, do mito inatingível e desconhecido para a porta ao lado.

Agora, a celebridade são nossos vizinhos, todos nos tornamos potencialmente “famosos” –em alguma escala– graças às poderosas plataformas do mundo digital. E o que mais intriga nisso tudo: aquele véu de irrealidade que encobria de purpurina e fetiche os ícones do passado não foi substituído pela verdade nua e crua da realidade nas postagens do Instagram, nos flagrantes dos stories.

Deixamos a fantasia fictícia de um mundo imaginário e mítico das celebridades e passamos a habitar a realidade fictícia do real. Trouxemos o faz de conta para as nossas vidas diárias e, assim, assistimos ficções humanas e vidas surreais desfilarem pelo feed de nossas telas. E o mais incrível: como essa ficção é de pessoas de carne e osso que conhecemos, há uma compulsão instintiva para acreditarmos que aquele universo paralelo realmente existe.

Então, eis-nos chafurdando nele, projetando ao mundo um avatar de nós mesmos apenas porque, se o irreal assume ares de realidade, nossa irrealidade não é mais uma alucinação como costumava ser. É um sinal de autenticidade, num mundo onde o ser e o personagem se confundem.

Há algo de errado nisso? Não. Cada época tem sua treslouquice e a de hoje parecerá tão banal e inofensiva como nos parece hoje um baile de máscaras ou um salão de valsa. Mas não deixa de ser curiosa a lógica de “ser alguém” num Instagram. Ser alguém que, no fundo, não se é.

Porque ninguém é um conjunto de postagens e uma vida não cabe numa seleção de poses. Aquilo é a criação de uma persona. E tudo bem se inventamos um outro eu para mostrarmos aos outros. Mas para quê? Você pode me dizer: porque eu quero, ora! E essa é uma ótima e suficiente razão.

Mas a lógica de atrair atenções é diametralmente oposta à de ser o que se é. Porque dias são modorrentos, porque acordamos descabelados e muitas vezes com mau hálito, porque muitas vezes queremos aquela roupa feia que é superconfortável, porque quantas vezes comemos feito porcos, porque vamos a restaurantes chinfrins que amamos, porque guardamos coisas de gosto duvidoso.

E nada, nada disso, mesmo as divas mais glamorosas e os boys magias mais curtidos, nada disso aparece nas redes sociais. O que se expõe ali são fragmentos parecidos com as revistas de celebridades do passado: carrões, vinhões, casonas, homões, mulheronas…

Viramos todos Marilyn Monroe e Grace Kelly. Isso é um tanto fantástico, um tanto surreal, um tanto farsa, um tanto ridículo. Isso somos nós.
Texto: Mario Rosa
Via: Poder360
Post: G. Gomes
Canal: www.deljipa.blogspot.com.br

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