Pelo
menos 197 crianças e adolescentes brasileiros apresentaram, até o fim
de agosto, uma série de problemas de saúde que, juntos, podem
caracterizar uma nova doença potencialmente associada a covid-19, a
Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica.
De acordo com o Ministério da Saúde, do
total de crianças, 140 tinham menos de 10 anos no momento em que
adoeceram. Ainda segundo a pasta, a síndrome pode ter causado a morte de
pelo menos 14 pacientes com idades entre 0 e 19 anos no período de maio
a agosto deste ano.
Os óbitos notificados foram registrados em
oito estados: Pará (3); Rio de Janeiro (3); Ceará (2); Paraíba (2);
Bahia (1); Pernambuco (1); Piauí (1); e São Paulo (1). A coordenadora de
Saúde da Criança e Aleitamento Materno, Janini Ginani, lembrou que as
mortes em questão estão “sob investigação”, já que várias outras
síndromes podem se sobrepor, dificultando o diagnóstico.
Segundo o último balanço, até o dia 26 de
agosto, o maior número (41) de notificações da nova síndrome vinha do
Ceará. Em seguida estão Pará (24); Rio de Janeiro (22); Distrito Federal
(19); São Paulo (19); e Bahia (11). Também foram registrados casos em
Alagoas (9); Espírito Santo (8); Minas Gerais (5); Paraíba (6);
Pernambuco (9); Piauí (6); Rio Grande do Norte (9); e Rio Grande do Sul
(9).
Ontem (8), entretanto, o governo de Pernambuco anunciou que os casos da síndrome no estado já somam 16, incluindo uma morte.
UF |
NÚMERO TOTAL DE CASOS |
NÚMERO DE ÓBITOS |
Acre |
- |
- |
Alagoas |
9 |
- |
Amapá |
- |
- |
Amazonas |
- |
- |
Bahia |
11 |
1 |
Ceará |
41 |
2 |
Distrito Federal |
19 |
- |
Espírito Santo |
8 |
- |
Goiás |
- |
- |
Maranhão |
- |
- |
Minas Gerais |
5 |
- |
Mato Grosso do Sul |
- |
- |
Mato Grosso |
- |
- |
Pará |
24 |
3 |
Paraíba |
6 |
2 |
Pernambuco |
9 |
1 |
Piauí |
6 |
1 |
Paraná |
- |
- |
Rio de Janeiro |
22 |
3 |
Rio Grande do Norte |
9 |
- |
Rondônia |
- |
- |
Roraima |
- |
- |
Rio Grande do Sul |
9 |
- |
Santa Catarina |
- |
- |
Sergipe |
- |
- |
São Paulo |
19 |
1 |
Tocantins |
- |
- |
Brasil |
197 |
14 |
Monitoramento
Embora
se caracterize por sintomas diversos, a síndrome está frequentemente
associada à febre persistente, acompanhada de pressão baixa,
conjuntivite, manchas no corpo, diarreia, dor abdominal, náuseas e
vômitos, entre outros. Em alguns casos, o paciente pode desenvolver
também sintomas respiratórios e disfunção cardíaca. Além disso, há
sempre uma marcante atividade anti-inflamatória do organismo.
Os
primeiros casos da nova síndrome começaram a ser registrados na Europa
em abril deste ano. Os relatos logo se multiplicaram, motivando a
Organização Mundial da Saúde (OMS) a emitir um alerta para chamar a
atenção de pediatras de todo o mundo.
Em
20 de maio, o ministério divulgou, em parceria com as sociedades
brasileiras de Pediatria e de Reumatologia, um primeiro comunicado sobre
o assunto. A pasta pedia atenção dos profissionais de saúde para que a
síndrome fosse identificada rapidamente. Os sintomas, entretanto, podem
ser confundidos com os de outras síndromes, como a de Kawasaki.
No dia 24 de julho, quando o país registrava 71 casos confirmados de covid-19 e três mortes,
o ministério implantou um sistema de monitoramento nacional da síndrome
por meio de formulário disponível no sistema oficial de comunicação da
pasta.
Na
semana passada, ao participar de uma reunião da Comissão Externa de
Enfrentamento a Covid-19, do Senado, o diretor do Departamento de Ações
Programáticas Estratégicas, do Ministério da Saúde, Antonio Rodrigues
Braga Neto, destacou a necessidade de se “qualificar o atendimento às
crianças”, esclarecendo que a notificação, apesar de importante, não é
obrigatória.
“Ainda
não temos a notificação compulsória. O que temos é uma recomendação”,
disse Neto. “Entendemos que a notificação compulsória é uma ferramenta
de interesse epidemiológico que facilitará a análise destes casos”,
acrescentou o diretor, enfatizando que, mundialmente, ainda há muitas
dúvidas sobre a síndrome.
“É
uma doença nova, muito recente. O que temos que garantir é a
capilaridade das informações. [Garantir] que uma criança que chegue à
atenção primária com febre há três dias e algum dos outros sintomas,
como náusea, cefaleia ou conjuntivite, e que apresente alterações
laboratoriais tendo a sepse sido excluída seja encaminhada para uma
atenção especializada.”
Durante
a reunião, a coordenadora de Saúde da Criança e Aleitamento Materno, do
Ministério da Saúde, Janini Ginani, ressaltou que a maioria das
crianças e adolescentes acometidos pela síndrome é do sexo masculino,
possui entre 0 e 9 anos e não tinha doenças crônicas pré-existentes.
“Os
casos têm sido mais prevalentes na faixa etária até 10 anos de idade.
Entre as crianças de 0 a 4 anos, 41 eram do sexo masculino e 34, do
feminino. Já entre as de 5 a 9 anos, foram 39 e 26, respectivamente”,
detalhou Janini.
“Temos
visto uma dificuldade com relação à discriminação desses casos. O que,
possivelmente, é uma sepse sendo notificada como uma Síndrome
Inflamatória Multissistêmica. Estamos tentando separar essas
causalidades; aprimorar a vigilância para entender como essa síndrome
tem se desenvolvido no país, qualificando também a vigilância e [o
registro] de óbitos.”
UTIs
Pesquisador
do Instituto D'OR de Pesquisa e Ensino e da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ), o pediatra Arnaldo Prata apresentou, durante a
reunião, dados de um estudo feito com 79 crianças e adolescentes
internados em 19 unidades de terapia intensiva (UTIs), públicas e
privadas, de cinco estados (BA; CE; PA; RJ e SP).
Para
ele, embora o número de casos da síndrome seja pequeno, é preciso estar
alerta, já que 87% das crianças internadas em UTIs testaram positivo
para covid-19. Destas, 13% apresentaram um quadro clínico associado à
síndrome.
“Ou
seja, entre crianças de 0 a 19 anos, a doença inflamatória
multissistêmica pode acometer de 10% e 15% das que adoecem e que
precisam ser internadas devido a covid-19”, enfatizou Prata.
Informações:Ministério da Saúde
Post: G. Gomes
Home: www.deljipa.blogspot.com
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