Enquanto em algumas regiões de Porto Alegre, como parte do Centro Histórico e bairros da Zona Sul, a água do Guaíba baixou e a limpeza começou a ser feita, na Zona Norte da cidade a inundação permanece. A fonte acompanhou um ponto de resgate e acolhimento montado por centenas de
voluntários no cruzamento das avenidas Benjamin Constant e Cairú, no
bairro de Navegantes, na região do chamado 4º Distrito. O bairro fica
nos arredores do Aeroporto Salgado Filho, terminal que segue fechado por tempo indeterminado justamente por continuar alagado.
Ainda na tarde deste sábado (18/052024), mais de
duas semanas após o início das inundações, barracas e tendas montadas
abaixo do viaduto seguiam fazendo atendimento a pessoas e animais
resgatados na região.
"Só hoje [ontem, sábado, 18/05/2024, ainda retiramos 37
pessoas [da inundação", afirma Edmilson Brizola, um dos voluntários.
Morador da região, ele ajudou a coordenar a logística das embarcações
que navegam ruas adentro. Ele calcula que, apenas nesse ponto, mais de 5
mil pessoas foram resgatadas, além de outros 2 mil animais, entre
gatos, cachorros, galinhas, cavalos, aves e até porcos.
A Avenida Cairú ainda é praticamente uma hidrovia, com mais de 1,5 mil metros de alagamento, desde a confluência da Avenida Benjamin Constant até o Guaíba. A medição do nível do Guaíba na manhã deste domingo (19/05/2024) registrou 4,43 metros, de acordo com a prefeitura da capital, cerca de 10 centímetros a menos em relação ao dia anterior. A cota de inundação é de 2,5 metros.
A aposentada Marlene Terezinha Silveira, moradora do bairro Sarandi, também na Zona Norte, passava pelo ponto de acolhimento em busca de roupas e cobertores. Sua casa segue embaixo d'água e ela ainda não consegue calcular os prejuízos. “Fui lá hoje, de barco, mas só pra ver por cima. Moro há 60 anos no Sarandí, costuma alagar, às vezes perto do portão, mas não assim. Nunca imaginei isso na minha vida. Agora, eu vou entrar em casa quando puder, botar tudo fora e limpar. Pelo menos uma cama eu sou obrigada [a limpar], até para eu dormir, e um fogão fazer uma comida”.
A reportagem percorreu diversas ruas do bairro de Navegantes a bordo de um bote do Corpo de Bombeiros. Parte dos moradores decidiu permanecer, mesmo com energia cortada. Além do resgate, uma das tarefas de voluntários e equipes de salvamento é prover essas pessoas com mantimentos para sobrevivência, como pilhas, baterias e alimentos.
Do resgate ao acolhimento
O ponto de resgate e acolhimento da Avenida
Benjamin Constant se assemelha a um acampamento de guerra. Há diversas
barracas, divididas em áreas de atendimento médico, farmácia,
alimentação e roupas e cobertores, além de um setor de apoio psicológico
e uma equipe de transporte solidário para levar resgatados a abrigos ou
casas de parentes. No local, há uma oficina improvisada e uma área de
abastecimento de embarcações.
A logística de resgate de animais tem uma
estrutura própria de primeiros socorros veterinários e um abrigo
provisório. Uma das voluntárias é a médica veterinária Sheila Kircher,
que conta ter perdido uma amiga na tragédia e vem se dedicando ao apoio
solidário.
“Eu perdi uma amiga na enchente e fiquei me sentindo muito impotente sem poder ajudá-la no momento que ela precisou. Então, também, para ocupar a cabeça, eu achei melhor vir e ajudar no que eu podia, né?”, desabafa.
“Eu perdi uma amiga na enchente e fiquei me sentindo muito impotente sem poder ajudá-la no momento que ela precisou. Então, também, para ocupar a cabeça, eu achei melhor vir e ajudar no que eu podia, né?”, desabafa.
Em geral, quando os animais chegam, o quadro é de hipotermia e muitas lesões de pele. “A gente tira as medidas, seca, limpa e tenta estabilizar. Os casos mais graves a gente tenta encaminhar para clínicas e cirurgias”.
Dezenas de animais, ainda sem os tutores localizados, aguardam por uma destinação a abrigos ou mesmo adoção solidária. De acordo com dados do governo do estado, são mais de 12 mil animais resgatados no estado até agora.
Para ajudar a acolher esse contingente, mais de 20 toneladas de ração doadas para o Rio Grande do Sul, para alimentar os cães e gatos vítimas das enchentes, chegaram no avião cargueiro KC-390 Millennium da Força Aérea Brasileira (FAB), enviado pelo governo federal, que também levou itens essenciais para pets, como caixas de transporte, camas e bebedouros. Campanhas de adoção de animais também têm sido estimuladas pelas redes sociais, com adesão em todo o país.
Post: G. Gomes
Home: www.deljipa.blogspot.com
Informações: ebc
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