Estudo
do British Council - organização internacional do Reino Unido para
relações culturais e oportunidades educacionais - mostra que a formação
docente é um dos mais graves empecilhos ao uso de tecnologia em
laboratórios ou em sala de aula. Paralelamente a essa questão, as
escolas brasileiras enfrentam problemas de infraestrutura.
Segundo o levantamento, o Centro de Inovação para a Educação Brasileira (Cieb) traz em seu site
uma autoavaliação feita por mais de 100 mil professores brasileiros de
educação básica, mostrando que não se sentem aptos a utilizar a
tecnologia para nada além daquilo que fazem em sua vida pessoal.
“Há outro entrave de formação a ser superado
o quanto antes: a maioria dos professores diz que não sabe utilizar a
tecnologia para o seu próprio desenvolvimento profissional, ou seja,
para fazer cursos online ou autoavaliação online. É uma competência a ser desenvolvida para que as ações de gestão deem mais resultados”, diz a pesquisa.
Em relação à infraestrutura, dois tipos
principais de carências atrapalham as escolas: a baixa conectividade,
desafio de porte para um país com a extensão territorial do Brasil, e a
dificuldade de acesso a computadores, tablets e outros
suportes. “Para se ter uma ideia, os países da Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) têm uma média de cinco
alunos por computador, enquanto no Brasil esse número sobe para 35 ou
mais”, aponta o documento.
A pesquisa destaca que uma “questão crucial
para o bom ensino de ciências é a formação continuada, que deveria
complementar e atualizar conceitos num mundo sempre em mutação, com
novas descobertas”.
“A forma de ensinar ciências tem mudado com
celeridade, e o British Council busca compartilhar boas práticas do
Reino Unido em ensino de STEM, incentivando trocas e parcerias com o
Brasil”, disse, em nota, a diretora de Engajamento Cultural do British
Council Brasil, Diana Daste. “Essa pesquisa tem o papel de fomentar
reflexões e conversas que possam contribuir com os profissionais e
pesquisadores no diálogo sobre as políticas públicas para ensino de
ciências e tecnologia”.
Tecnologia e ciências
Segundo o levantamento, a computação pode
colaborar fortemente com o aprendizado em outras áreas, como ciências da
natureza. Além disso, é área estratégica para a sociedade contemporânea
e uma das mais atrativas do mercado de trabalho.
No entanto, o estudo mostra que essa
realidade ainda não foi transposta, como poderia, para o universo da
educação. A pesquisa indica variação levemente declinante no número de
matrículas para licenciaturas de ciências da computação entre 2015 e
2019. Pelos dados do Censo da Educação Superior, as maiores quedas se
deram nas universidades estaduais e privadas, com decréscimo de 14,5% e
21,9% respectivamente, enquanto as federais tiveram crescimento de
104,8%.
De acordo com a análise, a explicação para
esse quadro envolve algumas variantes, como a baixa atratividade
financeira para a carreira docente. Existe, porém, a expectativa de que a
implementação da Política Nacional de Educação Digital, aprovada em
dezembro de 2022 e sancionada em janeiro de 2023, torne mais atrativa a
carreira docente na área de ciências e tecnologia. O PL 4.513/2020
estabelece ações para ampliar o acesso à tecnologia em cinco frentes:
inclusão digital, educação digital, capacitação, especialização digital e
pesquisa digital.
Outro dado que chama a atenção é o aumento
da presença do Ensino a Distância (EAD). Entre as licenciaturas
selecionadas para o estudo, entre 2010 e 2019, os maiores crescimentos
na EAD foram nas áreas de matemática (46,5%) e computação (46%).
As autoras da pesquisa levantam a
possibilidade de a mobilização para abertura de cursos na área de
matemática, além de necessária pela importância da disciplina e pela
demanda por esse profissional, ser mais simples em termos de
infraestrutura para as instituições de ensino superior. “Afinal, esse
crescimento não foi acompanhado por disciplinas que, idealmente,
demandam a montagem de laboratórios, como física, química e biologia,
que exigem maior aporte financeiro para sua oferta”.
Modernização do ensino
A necessidade da modernização do ensino de
ciências no país é um dado recorrente na pesquisa. Os pontos de atenção
levantados incluem, por exemplo, o acesso reduzido a materiais de
laboratório e os desafios enfrentados pelos docentes no processo de
inserção e desenvolvimento do letramento científico na rotina da escola
básica.
Outro cenário apontado é a necessidade de
ambiente propício para a ampliação do currículo de ciências e
tecnologias com assuntos interdisciplinares, que envolvam temas como
gênero e raça.
Entre as recomendações que o estudo propõe,
destaca-se como fundamental a ampliação da formação continuada e troca
de experiências docentes.Post: G. Gomes
Home: www.deljipa.blogspot.com
Informações: Cieb